terça-feira, junho 19, 2007

Medo de cada um...

Estar tentado
E viver amargurado
Tudo parece um achado
E certezas não as há

Nada ajuda
E não tenho quem me acuda
Só o medo me saúda
E coragem ninguém dá

No meu medo
Este segredo
Receio forte
Tão forte que me corrói
Pois tentando
Seja qual for a sorte
Meu coração palpitando
Que não sei se me destrói

Bom seria
Poder um dia
Perder o medo
O medo que me detém
Mas a esperança
Venha ela tarde ou cedo
Por certo traz a bonança
E eu irei mais além

sexta-feira, junho 08, 2007

Audiovisualidades II...

Mas não foi somente a audição a ser vitimada pelos avanços científicos nas tecnologias audiovisuais, a visão foi-nos constantemente debilitada ao longo do séc. XX, primeiro pelo uso da televisão, "a caixinha que mudou o mundo", ora não podia esta frase estar mais correcta se pensarmos no que nos sucedeu após a sua invenção, deixaram de haver barreiras espacio-temporais, o que acontece do outro lado do mundo é do nosso conhecimento apenas segundos após a ocorrência, torna-se portanto irrisório procurar outras fontes de informação, pelo que nos deixamos dominar por esse instrumento que foi criado para nos servir, a teledependência é uma doença de que quase todos nós sofremos, muitos de nós somos bem capazes de chegar a casa com fome, mas antes de comermos ligamos o televisor. Perdeu-se o hábito de conversar às refeições, as famílias passam as refeições "vidradas na televisão, deixa de haver comunicação em casa, há a revolta por parte dos jovens que não se sentem acarinhados pelos pais, tudo isto porque temos em casa algo que domina a nossa percepção visual, a televisão. Criaram-se até novos conceitos tendo em conta o uso da televisão, sendo que o mais famoso é o zapping, estar constantemente a mudar de canal sem que qualquer tipo de informação seja assimilada, é como estar a vêr sem vêr, a televisão tornou-se num vício. Para além disso temos tendência a vêr o que assistimos na televisão como algo sagrado, a nossa visão é corrompida pela televisão, tomamos as personagens de ficção como modelos de vida, a ficção mistura-se com a nossa vida até porque nos encontramos tão abstraídos do mundo real tal é a atracção sentida pelos media, veja-se as crianças que se mataram por pensarem que conseguiam voar como o super-homem.
Ainda temops a violência dos temas apresentados pelos media (acidentes, mortes, violência familiar, etc.) facilmente identificável, podemos tentar erradicar isso se quisermos; poderíamos inclusive rejeitá-la se essa virtualização dos receptores praticada pela linguagem não nos tivesse definitivamente implantado uma estética da violência muito mais cruel e sub-reptícia, muito mais perigosa porque apresentada como "as maravilhas do virtual" e não como violência ao corpo. Sabemos ainda que essa "violência ao corpo, ao sensível" não é um fenómeno exclusivo dos meios de comunicação, ele encontra-se na base das sociedades modernas, é um dos grandes paradigmas da modernidade que a contemporaneidade vem revendo. Sobre esse fenómeno vários autores dedicam uma longa reflexão chamando a atenção especialmente para o modo como a própria produção de conhecimento do século se deixou levar por essa direcção. Com ele, podemos pensar no papel dos media numa época em que até mesmo o pensamento exerce a sua violência contra o sensível.
Depois apareceu o Computador e, na década de 90, a Internet. A Internet veio permitir a quebra total das barreiras espacio-temporais, graças a esta invenção é hoje possível comunicar em tempo real com alguém do outro lado do Mundo, podemos vêr como são as culturas de todo o Mundo, os seus costumes, sem termos que sair do conforto do nosso lar. É aqui que reside o grande problema, as pessoas hoje em dia renegam a si próprias o prazer de experenciar, vivenciar o Mundo. Deixámos de estar limitados espacio-temporalmente, mas ao mesmo tempo limitamo-nos a estar sentados em casa e a deixar de saber o que é a vida como sempre foi, recheada de experiências físicas, de diversão, tristeza, violência, paz, enfim todos os sentimentos que nos tornam humanos. É-me profundamente repugnante a ideia de que daqui a uns anos, os seres humanos poderão passar a ser criaturas grotescamente obesas, que assim ficam por passarem a vida sentados em frente a um computador, que não conhecem sentimentos, seres puramente racionais, despojados de humanidade. É um esterótipo que pensava não passar de mais um chavão em jeito de piada, mais um exagero do cinema, mas que a cada dia que passa me parece ser o final mais provável.
Perderam-se os horizontes, o Homem deixou de sonhar, tudo o que experenciamos hoje em dia é uma reposição do que já se sabe, é um "upgrade audiovisual", um embelezar do "já visto", o Mundo começa a tornar-se repetitivo e as descobertas tendem a cessar. Todas as manifestações que estimulam os sentidos da visão e da audição começam a perder a originalidade que durante séculos despertou estupefacção e admiração pela capacidade criativa do Homem. Inicia-se uma fase em que é consideravelmente desinteressante viver neste Mundo dominado pelos multimédia, este sentimento de desinteresse é por muitos sentido como causa dessa evolução que trouxe a perigosidade ao que intencionalmente era para servir o Homem.
...
Face a toda esta problemática adventícia do uso de novas tecnologias, a toda esta panóplia de avanços tecnológicos cujas implicações têm um potencial catastrófico para a civilização, resta-nos apenas esperar que o Homem consiga recuperar e restituir a si próprio esse equilíbrio sensorial pelo qual ansiava, mas cujo desenvolvimento se tornou rapidamente independente e acabou por nos tornar reféns da nossa própria evolução. Que o Homem não perca a noção de realidade, que não se deixe manipular pelo comodismo fornecido pelas novas tecnologias, que volte a sonhar, que volte a criar, que volte a ser o Homem senhor do Universo e não passe a ser um "zombie", um joguete nas mãos das suas mais sublimes e impressionantes criações. Que o Homem volte a vêr e a ouvir.
Fim