Madrugada de Domingo, um fim-de-semana que passa. Um ano novo que começa com tanta indecisão quanta a que me lembro de ter quando acabei o 9º ano. Um ano repleto de possibilidades que diz adeus a outro carregado de infortúnio, miséria, burrice, roubo, depravação e, deixando de falar do Governo de Sócrates, talvez um pouco de amor, felicidade e esperança. Sentimentos que se desvanecem tanto quanto os sonhos que ocasionalmente recordo com carinho, os sonhos que tinha enquanto estava a tirar o meu curso superior, tão superior que a frase mais ouvida nos últimos tempos por todos que o têm é “Você é demasiado qualificado! Não podemos pagar-lhe ordenados de acordo com o seu grau de instrução!”. Mas os sonhos de ser Relações Públicas de uma grande instituição, de abrir uma editora, até mesmo o mais modesto, de escrever um livro, se tornam a cada dia que passa uma maior miragem.
Sinto saudades dos meus tempos de criança em que não passava de um ser reaccionário que se limitava a gostar ou não gostar de algo enquanto sorvia conhecimento como agora bebo ao fim-de-semana para esquecer esta vida de merda que nos reservou o modo de vida ocidental globalizado. Os padrões e metas eram mais elevados, a todos os níveis e em todos os países do globo. Neste momento anda tudo com medo que amanhã o dinheiro que tanto lhes custou a ganhar e que depositaram no banco desapareça pelas artes mágicas do sistema financeiro que tratam as poupanças de muita gente como arredondamentos por defeito.
Querem ter tudo e fazer tudo em grande, no entanto esquecem-se que quanto maior as organizações e maiores as estruturas que gerem pessoas e países pior o resultado final. O truque é simplificar e pensar no mais pequeno ser da sociedade. O recém-nascido é o objectivo que nos traz a este mundo e nos faz continuar, é deixar cá os nossos genes, a nossa herança genética e dar-lhes as melhores condições possíveis para que o façam à geração seguinte. Convém pois pensar na criança e na forma como esta chega à idade adulta. Com que valores queremos que as nossas crianças cresçam e rejam amanhã o mundo no qual nós vamos viver e seremos velhos demais para ter voto na matéria? Com os valores passados por uma sociedade que lhes afasta os pais todos os dias com o trabalho que cada vez mais lhes consome o tempo para a paternidade que é só a coisa mais bela que o ser humano tem o privilégio de poder fazer? Ser pai é mais que um “Ya bute ter um puto!”, ser pai é uma responsabilidade negada pelo trabalho, é uma felicidade negada pelo trabalho, que tolda e cega todo o mundo que quando chega a casa quer é comer e dormir pois vem cansado do trabalho e tem os filhos à espera de os encontrar felizes e disponíveis para o seu papel de pai e de lhes proporcionarem momentos de cumplicidade e de diversão que são todos eles de aprendizagem também mas ao invés ouvem um “Agora não dá!” dia após dia, vítimas de um ciclo vicioso da sociedade do consumo imediato.
Se os problemas começam logo na base de uma fundação não há muito a ganhar em pensar-se primeiro em resolver os do telhado.